Vou contar uma história sobre um homem cruel e amargo, então prometa não causar uma cena. Essa história se trata de homem com o seu passado lhe perseguindo. Uma dívida não quitada de muito, muito tempo atrás... (Conto COMPLETO)
DIA DE PAGAMENTO
– Ai
minha cabeça... Onde eu estou? Por que estou amarrado nesta cadeira, neste
quarto de hotel barato?
– Onde
você tá camarada, não interessa! Mas o porquê de você estar aqui é simples: são
só negócios.
–
“Negócios”? Como assim, “negócios”? Quem é você?
– Eu
sou um simples cobrador. Hoje é o dia do seu pagamento. – o cobrador se
aproxima pega seu revólver e dá uma coronhada na cara do homem amarrado. Ele
ainda continua acordado, mas sangrando.
–Desgraçado!
Não é possível! Eu não devo nada a ninguém, sou um homem honesto. Me solta!
Isso é um engano!
–“Honesto”?
Não acho que você seja alguém “honesto”. E pode ter certeza, não é um engano. É
hoje que você morre.
A
espinha do homem amarrado gela completamente, mas ainda tenta se manter no
controle e responde:
– Não,
por favor, não. – e o pouco do controle
que tinha sumiu – E... Eu tenho... Eu... Tenho uma família. Seja lá o quanto
pagaram para me matar, eu pago o dobro.
O
cobrador começa a dar uma risada irônica e insuportável.
– Agora
você lembra que tem família? Eu pesquisei o seu passado. Você não passa de um
canalha estelionatário que só pensa em si! Realmente você não tem o nome sujo,
mas sujou o dos próximos a você, sua bela família por exemplo. E por falar
nisso, há quanto tempo você não os vê?
– O que
isso tem haver? Han?! Vamos! Diga–me um nome! – o homem amarrado suspira – Eu
desisto...
O
cobrador usa um soco–inglês novamente no rosto ensanguentado do homem amarrado
e começa a falar:
– Bem,
deixe–me dar uma notícia de sua família. Eles passaram por muitas dificuldades
depois que você se foi embora. O pão que o diabo amassou virou um banquete para
eles. Ainda acha que você vale a pena viver?
– Sim.
Eu já falei, seja lá o quanto te pagaram, eu pago o dobro, nem precisa me falar
quem foi, só me deixe ir embora. – O homem amarrado começa a chorar, suas
lágrimas se misturam com o sangue em seu rosto.
– BUÁ!
BUÁ! BUÁ! Pode chorar e gritar o quanto quiser. Sua hora tá chegando xará! – o
cobrador se abaixa aproximando seu rosto, ficando cara a cara com seu
companheiro de quarto – Só me responda uma coisa, se você acertar pode ir.
– P...
Po... Pode falar.
– Se
você encontrasse seu filho ao acaso, você o reconheceria? Seja sincero. – o cobrador
mantém uma voz calma e pacífica, mas ainda medonha.
– Sim!
Claro que reconheceria!
–
Certeza?
–
Absoluta!
– Me
desculpe. Resposta errada! Boa noite pai...
–
Filho?!
O
cobrador mira o revólver e dispara contra o rosto de seu pai. O barulho da
explosão da bala se transforma num suspiro de alívio e vingança. Seu trabalho
está feito. Acende um cigarro, prepara suas malas, abandona o corpo e vai
embora sem rumo, sem destino. Vai até o telefone público, liga para sua mãe e
logo após para sua esposa dizendo a elas a mesma coisa, diz o que aconteceu e
como aconteceu, não deixando nenhum detalhe para trás. Diz também que seguirá
sozinho dali em diante para a polícia não incomodá-las. A reação das duas foram
praticamente as mesmas. Uma crise de choro e depois o silêncio do conformismo.
Ele teria que fazer isso de um jeito ou de outro. As escolhas foram tomadas.
Esse foi o seu destino.